Cheguei a casa e estava Lobo Antunes a falar. Fiquei, como sempre, imediatamente hipnotizada. Em tão poucas palavras, disse todo o essencial.
E, como sempre, fez prender a minha alma na sua.
Tomo a liberdade de transcrever aqui alguns excertos, da parte da entrevista que pude gravar.
São as palavras de um homem que é tudo menos um homem comum:
“Há uma zona nossa que nos continua a ser completamente obscura, ou quase obscura para nós. E se eu conseguir atingir essa zona, esse núcleo de trevas que há em mim e pô-lo dentro de um livro… Esse seria o desígnio; esse seria o desejo; essa seria a finalidade”.
“A gente adoece do livro enquanto o está a ler. Adoece no sentido em que o livro começa a fazer parte de nós.”
“O que eu gostava era de poder encher os livros de silêncio. E tender cada vez mais para o silêncio. E que as palavras estivessem carregadas de silêncio, de maneira a que o leitor as pudesse encher como entendesse. E as pudesse vestir e pintar. E mudar. E fazer como entendesse.
(…)
Porque é o leitor que é importante, não o escritor.
Eu qualquer dia morro, não sei quando, os livros espero que fiquem...
(…)
Eu acho que os livros são melhores que eu… E que os livros vão ficar e eu vou partir...
E ainda bem que eles ficam, porque são a minha parte melhor e são aquilo que eu fui capaz de dar de mim… aos meus irmãos humanos”.
“Levamos a vida a procurar janelas em paredes onde sabemos que as não há. Temos medo de as abrir (…). Temos imensas portas onde nunca entramos”…
(…)
O que eu quero é abrir as minhas (janelas) e as dos outros, que são iguais às minhas. Eu sou um homem comum”…
“É um livro de tudo, com tudo lá dentro. (…) Era isso que eu queria, pôr a vida toda dentro das pernas de um livro. Toda!”
Quanto a Lobo Antunes que mais dizer… Está de novo na minha mesa-de-cabeceira. E dentro da minha alma.
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Deixo aqui os meus parabéns também a Mário Crespo. Não só soube conduzir na perfeição a entrevista, como deixou Lobo Antunes conduzir-nos à profundidade da sua sabedoria.
Felizmente para todos nós, Crespo contraria muitas vezes o “fast food” da informação televisiva dos dias de hoje.
Felizmente para todos nós, Crespo contraria muitas vezes o “fast food” da informação televisiva dos dias de hoje.
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Não perca a entrevista em: http://sic.aeiou.pt/online/homepage
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1 comentário:
Amiga Luciana
Obrigada pela oportunidade que me dá de ver essa entrevista desse Grande Escritor
Carlota Joaquina
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